Modismo da Epoca
Nos anos 1960 e início de 1970, um acessório virou febre entre os rebeldes da época. Muitos curtiam Roberto e Erasmo Carlos, Beatles, Elvis Presley, macacão Lee, calça boca de sino, costeleta e... Brucutu, nome dado a uma pequena capa cromada do bico do lavador de pára-brisa do Fusca, que, depois de roubada, era transformada em anel.
Ao que tudo indica, o termo “brucutu” foi inspirado no paradigma de um personagem de mesmo nome, figura do tempo das cavernas publicada nas tiras dos jornais estadunidenses. Ter um desses no dedo proporcionava o status de ser tão bruto quanto o personagem, além de pressupor a rebeldia e coragem imputada àquele que usava um objetivo roubado.
Com a moda, o brucutu quase desapareceu, tornando-se artigo de colecionador. Encontrar um representante, e seus saudosos ladrões, foi tarefa árdua.
Encontro com o Brucutu
Por sorte, achamos um no famoso ponto de encontro de colecionadores em São Paulo, a Avenida Duque de Caxias. Enquanto recebia uma resposta negativa do dono na loja Atlas, “Ih, vai ser muito difícil encontrar um desses”, alguém gritou: “Olha um Brucutu aqui!”
Atrás de nós havia estacionado um Karmann-Ghia com dois Brucutus; praticamente um milagre. Ver, pela primeira vez, a peça tão desejada, além de emocionante, despertou a ânsia histórica de também furtá-lo, ato impossível na ocasião. Vamos aos bem-sucedidos:
O jornalista José Carlos Pontes não passava vontade. Entre os 11 e 12 anos, perdeu a conta de quantos Brucutus roubou. “Em Votuporanga todo mundo tinha um anel desses. A gente fazia um buraco na semente de Jabota, achatava a parte de cima e colava o brucutu”, conta Pontes.
Já o concessionário Osmir Ricardo Almeida, de 47 anos, recorda-se de que na infância em Fernandópolis, interior de São Paulo, os anéis serviam até como soco inglês. “A gente colocava uma pedrinha nos buraquinhos e soldava. Ficava parecendo um besouro. Usar um era muito charmoso”.
Fato inesquecível para Osmir decorrido do roubo: “Era o maior esquema para roubar um Brucutu. Um dia, eu e minha turma (lembro do Caíque e do Murilo) fomos roubar o de um Fusca. O dono apareceu na hora. O cara era muito chato e levou a gente para a delegacia”.
O delegado que, ironicamente, levava o nome de Divino chamou os pais dos garotos. Sobrou puxão de orelha e muito sermão. “Ficamos ainda mais invocados com o dono do Fusca. Depois do ocorrido, entramos no carro dele e fizemos todo tipo de sujeira, como xixi, jogar terra e outras porcarias”, diz Almeida.
Outro a ter recordações quentes do tempo do Brucutu é Sidney Penteado (foto), de 51 anos. “No início dos anos 1970, a gente usava o Brucutu para chamar a atenção, além de costeleta (quem tinha cara de bumbum de nenê sofria), cinto de oito centímetro e fivela cinzeiro. Fui pego roubando um brucutu. O dono do carro, mais um amigo dele, me jogaram dentro do carro e ameaçavam levar na polícia. Eu disse que era menino de família, então me levaram para casa. Meu pai ficou muito bravo, pagou o prejuízo e me deu uns tapas na orelha”, lembra.
Além de enfeite, o anel servia também para os momentos de briga entre garotos, além de ser sinônimo de virilidade. Segundo Tuca Santana, 53 anos, assessor de imprensa, usar um Brucutu era trafegar no imaginário das meninas. “Ter um era ser tão homem das cavernas quanto o Brucutu, um rebelde. Lembro-me de que na época até houve em Taquaritinga, minha cidade, um bloco de carnaval com o nome de Brucutu”, conta Santana, que não era fã de roubar a peça, mas comprava-a depois de pronta.
AFINAL....
COMO FICAVA A SITUACAO DOS DELITOS?Como era o tal BRUCUTU?
Era uma peça de metal que ia sobre capô do Fusca, próximo ao pára-brisas, que mais se parecia com um pequeno besouro fácil de tirar, uma vez que era encaixada, assim como o distintivo da VW que também ficava logo acima do friso central.
Esta peça tornou-se uma mania ao ser usada como anel, ou como pingente de colar, ou até mesmo como prendedor de gravatas. O interessante é que, até aquela data (agosto de 1966), somente o Volks possuía esta peça como equipamento de série entre todos os carros nacionais.
Os brucutus mais desejados eram os ?niquelados? (cromados), que davam ao anel ou ao colar um aspecto de jóia, uma bijuteria bonita. Mas existiam regras. Os brucutus não podiam ser do próprio automóvel (seu ou da família), não podiam ser comprados, nem ganhos. Tinham de ser roubados dos carros estacionados nas ruas. Ou poderiam ser conquistados, na base da conversa.?Moço, me dá o brucutu do fuque?? Essa era a abordagem típica das meninas, uma vez que os garotos eram mais ousados e se utilizavam de métodos mais radicais, geralmente atacando com suas bicicletas, ou a pé, mesmo.
Desta forma, 90% dos Fuscas não tinham mais brucutu, que também encontrava-se em falta no mercado de auto-peças. A procura foi tão grande que as duas fornecedoras deste equipamento à Volkswagen tiveram que equipar e ajudar outras duas fábricas para produzir o bico ejetor, pois não conseguiam suprir o mercado na velocidade necessária para atender à demanda.
Chegou-se a criar uma divisão especial na polícia antifurtos especializada, tal o número de ocorrências nas cidades. O volume deste delito atingiu 50 milhões (provavelmente de cruzeiros) apenas na capital paulista. O problema é que a maioria dos infratores eram menores e meninas. Isto fazia uma enorme diferença em meados de 1966, chocava a sociedade.
Fonte: deste texto-Site webmotors-faz tempo esse post...
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