A paixão pelo antigo ofício em São Bernardo do Campo e o hobby da carpintaria chamam a atenção de quem conhece o aposentado Adair Pereira de Andrade. Aos 60 anos, para passar o tempo, o ex-funcionário da Volkswagen trabalha com carpintaria e constrói, com madeira reciclada, miniaturas de fuscas.
Andrade morava com a família em São Bernardo do Campo e trabalhava com estofados de veículos da Volkswagen. Porém, o custo de vida alto da cidade e as jornadas de trabalho o fizeram desistir e voltar para Santa Cruz. “Às vezes, trabalhava duas semanas no período vespertino e, na semana seguinte, no período noturno. Essas trocas de horário eram prejudiciais à minha saúde”, recorda.
Em um espaço reservado na frente de casa, Andrade mantém uma pequena oficina de marcenaria, onde passa o tempo preparando artesanatos de madeira. “Quando fico nervoso, pego meu rádio de pilha e fico meia hora mexendo com madeira. É minha terapia”, conta o artesão, que também trabalha meio período em uma fábrica de sapatos para complementar a renda mensal.
A paixão por miniaturas de marcenaria começou cedo. Segundo Andrade, a primeira delas foi um caminhão que seria entregue ao seu filho. “Cabia uma pessoa na carreta, mas acabei tendo apenas filhas e o caminhão se perdeu”, revela o aposentado. Até uma maquete da casa que pretendia levantar um dia foi preparada em madeira pelo marceneiro amador — porém, a casa não foi feita e a maquete também foi esquecida. Hoje, Andrade esculpe diversos apetrechos na madeira, como porta-jóias, cestas e chaveiros de parede.
Os fuscas começaram a ser produzidos há um ano. A idéia surgiu quando Andrade teve acesso a uma miniatura feita por uma empresa de Chavantes. “Mas era só a ‘casca do ovo’: não tinha bancos, painel, nada. Daí, peguei o molde e fui aperfeiçoando”, conta Andrade.
A primeira miniatura do veículo feita por ele foi vendida. Era um fusca vermelho que está exposto na Qualità, revendedora de veículos Volkswagen. O segundo foi rifado e os últimos dois — um amarelo e um branco — ainda estão na oficina de Andrade.
Diferentemente do primeiro, as miniaturas mais novas são modelos conversíveis para facilitar, segundo o artista da madeira, a visualização de detalhes do interior dos veículos.
Os detalhes dos carrinhos, aliás, são o que mais chamam a atenção. Os bancos, feitos do mesmo material, são entalhados de forma a parecer detalhes no couro. Os veículos têm volante, o painel tem uma simulação de porta-luvas e nem o manche do câmbio de marchas foi esquecido. A miniatura amarela — a mais nova — tem até portas e bancos articulados.
Andrade conta que os colegas de bar acabam ajudando no processo de aperfeiçoamento das miniaturas. “Eles são muito ‘corneteiros’. Quando fiz a porta, presumi que eles questionariam como a pessoa entrariam no banco de trás e resolvi fazer com que o banco levante”, explica. As brincadeiras acabam se tornado detalhes implementados no próximo trabalho.
O fato de ter trabalhado na montadora também ajuda no processo de criação. “Sei como era montado cada carro desde o início, peça por peça”, explica. Cada miniatura é montada com algumas dezenas de peças esculpidas por ele próprio. A quantidade de madeira utilizada em cada miniatura se faz presente no peso: são cerca de 3,5 quilos cada um.
Andrade calcula que tenha levado cerca de 200 horas para fazer o último. “Foram dois meses de trabalho, mas não exclusivamente neles”, justifica. Ele acredita que, caso se dedicasse unicamente à marcenaria, poderia fazer um fusca a cada duas semanas. “Não dá para vender por menos de R$ 200. Nesse caso, fazendo dois por mês, daria um pouco mais que um salário mínimo”, calcula.
Embora tenha vendido o primeiro fusca e rifado o segundo, Andrade não faz as miniaturas com o intuito exclusivo de lucro. O artesão, entretanto, avalia que artesanatos têm que ser vendidos por um preço mais alto, devido ao tempo que tomam do artesão. “Tem que ser caro porque leva tempo para fazer uma peça. Precisa gostar do que faz e ter paciência”, avalia.
A madeira usada nas miniaturas também são escolhidas a dedo. “Tem que ser madeira resistente, porque precisa ‘obedecer’ à lixa e à serra. Não dá para fazer de madeira de pinus, por exemplo”, conta Andrade, que anda à procura de móveis dispensados pelas ruas e compra madeira quando necessário.
Fonte: Luís Fernando Wiltemburg Da Reportagem Local
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